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 | 03/01/2009 03h31min

Amauri, sobre a Seleção: "Sou brasileiro, não tem por que dizer não"

Atacante da Juventus prefere esperar pelo chamado do técnico Dunga a defender seleção italiana

Carlos Guilherme Ferreira

Você poderia comer massa, mas prefere pastel e arroz. Para beber, uma cerveja no lugar do vinho. Considerando que as opções refletem as predileções do atacante Amauri, da Juventus, fica fácil descobrir por qual camisa ele pretende concretizar o sonho de jogar uma Copa do Mundo. Ainda que more na Itália há quase 10 anos, esteja em vias de conseguir a cidadania e conste nos planos da seleção Azzurra, a amarelinha é a cor desejada: – Sou brasileiro. Se eu tiver minha oportunidade, não tem por que dizer não.

Entrevistado por ZH, Amauri confirmou por telefone que só espera um chamado do técnico Dunga, coisa que pode acontecer para o amistoso justamente contra os italianos, em fevereiro. Está disposto a ignorar a vontade do treinador da Itália, Marcello Lippi, de convocá-lo.

A situação de Amauri, 28 anos, rendeu polêmica no Brasil e na Itália. O mesmo aconteceu com as pessoas próximas a ele. Aos risos, o atacante conta que a própria mãe, Janete, já expressou preferência – pela Itália, acredite. Acha que o filho deveria escolher o país pelo qual apareceu para o futebol.

De fato, Amauri admite que saiu faz pouco do anonimato no Brasil. Nascido em Carapicuíba, na Grande São Paulo, tentou a sorte em peneiras e, depois de rodar duas vezes no Palmeiras, só foi aprovado pelo Santa Catarina, da segunda divisão catarinense. Tinha 18 anos e jogou quatro meses por lá até chamar a atenção em um torneio disputado na Itália. Acabou no Napoli, e dali rodou por clubes pequenos até estourar no Palermo, seu time entre 2006 e 2008. Em junho último, foi comprado pela Juventus por 22,8 milhões de euros.

“Eu não tenho que escolher nada”, desabafa Amauri

A nova realidade se refletiu em dinheiro (3,5 milhões de euros de salário anual) e no prestígio que o colocou como selecionável de dois países. O presidente da Juventus, Giovanni Cobolli Gigli, o elegeu como melhor do time na temporada. O lado passional também apareceu:

– Seria um pecado se ele não virasse italiano.

Amauri discorda em parte. Fala na vontade de defender o Brasil, mas deixa nas entrelinhas que aceitará o chamado da Itália se Dunga de fato preteri-lo. Bate na tecla da idade. E deixa escapar que a insistência da imprensa no assunto o incomoda. Quase em tom de desabafo, reclama de histórias que julga inventadas por jornalistas.

– Falam que eu tenho que escolher, mas não tenho que escolher nada!

Na verdade, ainda que o tempo de Europa se reflita em novas atitudes, Amauri não larga as raízes. Pouco antes de falar com ZH, havia jantado com a família: pastel e arroz regados a uma cervejinha brasileira, nas férias com “clima de final de ano”, como justificou. Outra prova de Brasil aparece no sotaque paulista, ainda acentuado. Em casa, só conversa em português com a mulher, Cynthia, e o casal de filhos italianos, Cindy, seis anos, e Hugo, dois.

– Meus filhos têm de saber as diferenças de cultura – justifica.

O que as crianças ainda não sabem, porém, é se o pai conseguirá chegar à Seleção Brasileira. A resposta está com Dunga.

O goleador tardou para aparecer

Amauri é o caso típico do jogador que demorou para surgir: até os 26 anos, quando se destacou no Palermo, era figurante na Itália. Em 2002, no Messina, marcou quatro vezes em 23 jogos da Série B. Agora, faz dois gols em goleada por 4 a 2 sobre o Milan e é vice-artilheiro do Campeonato Italiano, com 11 gols (um a menos do que os líderes Gilardino, da Fiorentina, Diego Milito, do Genoa, e Di Vaio, do Bologna). Ele mesmo explica.

– Cheguei aqui garoto. No Brasil não joguei muito. Sou um jogador diferente dos outros, que fizeram categorias de base. Fui descoberto nos campos de rua, nas quadras. Tive de esperar mais tempo para explodir.

Um jogador, duas versões

Para ZH, Amauri disse que em sua casa só se fala português e, na mesa, predominam os hábitos alimentares brasileiros. Para o jornal italiano La Repubblica, o jogador muda o discurso. Em entrevista publicada ontem, ele afirma que a Itália é seu lar.

– Acho que ficaremos aqui para sempre. Também porque, por ser uma personalidade famosa, o Brasil pode ser um país perigoso. Na Itália estamos perfeitamente integrados: sou um brasileiro atípico, em minha casa se come massa e vivemos no estilo italiano – declarou.

Também no La Repubblica, Amauri desdenhou o interesse das seleções de Brasil e Itália:

– Poderia dizer não aos dois, não quero entrar em leilão. Cheguei à Juventus com minhas pernas, como um perfeito desconhecido. Me permita ser claro: não necessito de uma seleção.


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